HISTÓRIA - 2
CAPITALISMO MONOPOLISTA E IMPERIALISMO
No fim do século XIX, o capitalismo vivenciou profundas transformações, entrando no
que Lênin designou de “fase superior”, o imperialismo. Os economistas burgueses
procuram, frequentemente, reduzir a noção de imperialismo à criação dos impérios
coloniais, porém, isso é apenas um dos seus traços. A fase superior do capitalismo
caracteriza-se por uma série de peculiaridades que, só tomadas em conjunto, podem dar
a compreensão da essência do imperialismo. A base econômica da sociedade burguesa,
na época do imperialismo, continua sendo: a propriedade capitalista sobre os meios de
produção e a exploração, pela classe dos capitalistas, da classe dos trabalhadores
assalariados. Entretanto, as formas desta propriedade e o modo de exploração do
trabalho, pelo capital, modificaram-se consideravelmente, influenciados pelo estupendo
desenvolvimento das forças produtivas, pelo progresso da ciência e da técnica. O
imperialismo representa uma fase qualitativamente nova da formação socioeconômica
capitalista.
Mas quais são as mudanças na ordem econômica e política do capitalismo que
permitem falar da sua entrada na fase imperialista? Lênin desenvolveu uma análise
profunda acerca do imperialismo, demonstrando em sua obra, O Imperialismo, fase
superior do capitalismo, que as mudanças operadas no sistema, ao longo da segunda
metade do século XIX, estão relacionadas à passagem do capitalismo concorrencial
para o capitalismo monopolista.
O CAPITALISMO MONOPOLISTA
O período compreendido entre meados da década de 1840 e 1873 (ano que assinalou o
início da primeira grande crise de superprodução na Europa) ficou conhecido como a era
de ouro do capitalismo de livre concorrência. Foram anos que se caracterizaram pela
rápida expansão econômica em toda a Europa e pela consolidação da ordem burguesa
nas principais nações européias. Os modernos bens de capital, ou seja, as máquinas,
equipamentos, material de transporte e instalações de uma indústria, também
conhecidos como bens de produção, indispensáveis para levar adiante o processo de
industrialização, eram, em sua grande maioria, importados da Inglaterra, cujas
exportações cresceram, entre as décadas de 1840 e 1860, como nunca visto antes em
sua história. Na pauta das exportações, a participação dos bens de capital ingleses
subiu de 11% para 22%, assim como produtos como carvão, ferro e aço experimentaram
crescimento considerável. Entre 1830 e 1850, a Inglaterra viveu a fase do boom
ferroviário, quando foram construídos cerca de dez mil quilômetros de estradas de ferro,
provocando aumento vertiginoso na produção e no consumo de ferro, aço e carvão.
Essa extraordinária expansão foi reflexo de dois processos paralelos: a industrialização
nos países mais adiantados economicamente e a abertura comercial das áreas
subdesenvolvidas, que transformaram o mundo nesses decênios vitorianos, fazendo
com que a futura Alemanha (unificada em 1871) e os Estados Unidos logo se tornassem
economias industriais comparáveis à Inglaterra, abrindo áreas como as pradarias norte-
americanas, os pampas sul-americanos e as estepes da Rússia para a agricultura,
quebrando com esquadras de guerra a objeção da China e do Japão ao comércio
exterior. Criavam-se, assim, as condições para a formação de economias dependentes
do capital monopolista, dedicadas centralmente à exportação de produtos minerais e
agrícolas.
As consequências dessas mudanças não foram sentidas na Grã-Bretanha senão após a
crise da década de 1870, pois, até então, seus principais efeitos eram benéficos ao
maior (e, em muitas partes do mundo, único) exportador de produtos industriais e de
capital. A Inglaterra experimentou a revolução industrial na indústria pesada (por muitos
chamada de II Revolução Industrial), que, pela primeira vez, supriu a economia com
ferro em abundância e, mais importante ainda, com aço (até então produzido em
quantidades insignificantes, através de métodos antiquados). A ascensão do setor de
bens de capital proporcionou estímulo ao emprego de mão de obra qualificada no
enorme incremento da indústria mecânica, construção de máquinas, navios, etc (em
1914, os metalúrgicos constituíam a maior categoria isolada de trabalhadores na
Inglaterra).
As novas condições da economia inglesa permitiram, então, o notável aumento da
exportação de capital britânico, representando uma parte do fluxo de lucros e poupanças
em busca de investimentos e, graças à transformação do mercado de capital na era das
estradas de ferro (as bolsas de valores de Manchester, Liverpool e Glasgow foram todas
elas produtos da “mania ferroviária” da década de 1840), o capital dispôs-se a procurar
inversões não somente nos tradicionais bens imóveis e nos títulos de governo, mas
também em ações industriais. Com as estradas de ferro, a Grã-Bretanha entrou num
período de plena industrialização. Sua economia já não se equilibrava mais
precariamente no estreito patamar dos setores pioneiros, principalmente os têxteis.
Alicerçava-se firmemente na produção de bens de capital, o que facilitava o advento da
tecnologia e da organização modernas para uma grande variedade de atividades. O seu
predomínio industrial, em meados do século XIX, evidenciava-se através das seguintes
condições: o país produzia 2/3 do carvão mundial, cerca de metade do ferro, 5/7 do
suprimento do aço, mais ou menos a metade do tecido de algodão produzido para o
mercado e 40% dos produtos metalúrgicos. Somente ao final do século, tanto os
Estados Unidos como a Alemanha ultrapassariam a Grã-Bretanha na produção da
mercadoria crucial para a industrialização: o aço. A partir de então, os ingleses
passariam a integrar um grupo de grandes potências industriais, mas deixariam de ter a
liderança da industrialização.
Concentração e centralização de capital
Justamente quando o capitalismo de livre concorrência parecia atravessar a sua fase de
maior esplendor, as forças que levariam à concentração de capital, como previra Marx,
começaram a produzir os seus efeitos. Os aperfeiçoamentos tecnológicos foram de tal
monta que somente as fábricas de grande porte puderam tirar proveito dos novos e mais
eficientes métodos de produção. A concorrência tornou-se tão agressiva e destrutiva
que, em pouco tempo, as empresas menores foram eliminadas. Os concorrentes mais
poderosos, em vias de se destruírem uns aos outros, frequentemente optavam por se
associar, formando cartéis, trustes ou fundindo-se para assegurar a sua sobrevivência. A
sociedade anônima por ações ou corporação converteu-se num recurso eficaz que
possibilitava a uma única organização financeira assumir controle sobre vultosas
quantidades de capital. Desenvolveu-se, na Europa e nos Estados Unidos, um vasto e
bem organizado mercado de capitais, que centralizava, para as grandes corporações, as
pequenas poupanças em capital de milhares de indivíduos e de pequenos empresários.
Com a acumulação do capital e o desenvolvimento das forças produtivas, estimulada
pela concorrência intercapitalista, ampliou-se a massa de riqueza nas mãos do
capitalista e deu-se o processo de concentração de capital. Este processo, que, para
Marx, nada mais é do que a própria reprodução ampliada do capital, origina-se na
constante apropriação do trabalho não pago (mais valia) no processo de produção. O
volumoso investimento tecnológico realizado pelas empresas que possuíam melhores
condições de vencer a concorrência possibilitou à grande burguesia dois processos
simultâneos no desenvolvimento da acumulação de capitais. Primeiro, reduziu o preço
de custo da mercadoria e ampliou a produção, dando assim condições de que os
produtos fossem vendidos a preços mais baratos e em maior quantidade. Segundo, o
aumento da substituição do trabalho vivo por trabalho morto possibilitou um aumento
significativo na taxa da mais valia.
A cada novo ciclo de produção aumentava o capital acumulado nas mãos dos
proprietários dos meios de produção, levando a uma concentração cada vez maior do
capital. A concentração do capital é, pois, realizada com a permanente incorporação
de parte da mais valia extraída dos trabalhadores. Em função da aguerrida concorrência
entre os capitalistas, que obriga à adoção de melhorias tecnológicas e aumento da
produtividade do trabalho, os capitalistas que não se adaptam aos novos patamares de
desenvolvimento das forças produtivas, são derrotados ou absorvidos pelos capitais
maiores, resultando numa centralização de capitais e na constituição de grandes
empresas monopolistas.
A concentração da produção é operada em empresas cada vez maiores, provocada,
portanto, pelo fato de a livre concorrência, da época do capitalismo industrial, ter
levado à eliminação das pequenas empresas pelas grandes. Além da concentração,
acontece também a centralização do capital, que promove a união voluntária ou
forçada de muitos capitais. É voluntária, quando se criam sociedades por ações. É
forçada, quando as empresas menores são absorvidas pelas grandes durante a luta da
concorrência. A concentração da produção e do capital e a centralização do capital
conduzem aos monopólios e oligopólios, gigantescas organizações capitalistas que
passam a dominar, de modo quase absoluto, um ou vários setores da economia. Os
monopólios eram a consequência lógica da concentração da produção e do capital. A
concorrência entre os grandes capitalistas tornara-se, particularmente, aguda e
destruidora. Cada um procurava conquistar os mercados e aniquilar os seus rivais.
Se isto não fosse possível, tentavam fazer acordos sobre o volume de produção,
preços, etc. Era mais fácil chegar a um acordo entre algumas dezenas de empresas
gigantescas do que entre centenas e milhares de pequenas empresas.
Em fins do século XIX, no mundo dominado pelas gigantescas corporações que
produziam em massa artigos destinados aos mercados nacionais ou mundiais, a
concorrência de preços teve consequências tão devastadoras que as próprias
corporações acabaram renunciando a ela. Configurou-se uma tendência inexorável à
formação de um poder monopolista exercido por algumas poucas corporações. Várias
grandes empresas se associaram voluntariamente, formando cartéis ou pools, por
exemplo, preservando, ao mesmo tempo, uma relativa autonomia de ação. Outras
formas de associação utilizavam uma empresa financeira – um truste ou uma
companhia (holding) para controlar as ações com direito a voto das corporações
participantes. Havia ainda a alternativa da fusão ou amálgama de várias empresas,
formando uma única corporação unificada.
A Inglaterra, onde a filosofia liberal clássica do laissez-faire lançou raízes mais sólidas,
foi talvez o país menos atingido pela tendência à formação de corporações
monopolistas. Mesmo assim, os processos tecnológicos no campo siderúrgico forçaram
a constituição de grandes empresas produtoras de aço e de determinados produtos
siderúrgicos pesados, tais como chapas de navios ou de caldeiras. As ferrovias inglesas
também se associaram muito cedo, constituindo quatro grandes companhias. No setor
bancário, cinco grandes bancos comerciais, produtos de sucessivas incorporações,
dominavam a indústria às vésperas da Primeira Guerra Mundial. Em 1896, as cinco
indústrias que disputavam o controle da fabricação de tecidos de algodão fundiram-se
numa única empresa monopolista (J. & P. Coast), que passou a dominar o mercado
mundial do produto, dentre outros exemplos de ramos industriais que passaram a ser
dominados ou fortemente influenciados por um pequeno número de grandes empresas.
Nos Estados Unidos, a Guerra Civil deu um grande impulso ao processo de
industrialização, ampliando os mercados para os produtos industriais e favorecendo a
aprovação de leis benéficas às corporações emergentes, as quais em breve dominariam
a indústria norte-americana. O processo de concentração de capital nos EUA resultou da
onda de combinações e fusões, em escala sem precedentes, ocorrida no último quarto
do século XIX, em consequência da concorrência excepcionalmente violenta que
devastou e arruinou grande número de pequenas empresas industriais. No setor
ferroviário, nos campos petrolíferos, nas minas de carvão, entre os produtores de aço e
cobre, travaram-se constantes guerras de tarifas e preços, por meio das quais os
produtores procuravam conquistar para si os mercados. Essa guerra implacável
provocou a destruição ou a absorção dos concorrentes mais fracos pelos mais
poderosos, restando na arena somente os gigantes, como a Standard Oil Company, a
megaempresa petrolífera de John D. Rockefeller, que em 1879 controlava entre 90% e
95% da produção nacional de petróleo refinado. O alcance das fusões foi tão grande
que, em 1904, elas controlavam mais de dois quintos do capital industrial dos Estados
Unidos e englobavam cerca de quatro quintos das indústrias norte-americanas de
importância. Na indústria metalúrgica imperavam cinco monopólios, sendo os maiores o
“Truste de Aço” e a Bethlehem Steel Corporation; na indústria química, o consórcio Du
Pont; na indústria de material elétrico, a General Electric Company; na indústria de
automóveis, a General Motors e a Ford Motor.
Na Alemanha, os monopólios e diversas formas de associação industrial difundiram-se
mais rapidamente que nos outros países europeus, e os cartéis foram o principal tipo de
associação, chegando a monopolizar, no início do século XX, todos os setores
importantes da economia. A indústria química foi dominada pelos sucessores do
consórcio I. G. Farbenindustrie; na indústria de construções mecânicas, houve o domínio
dos consórcios Mannesmann e Klöckner; na produção de aço, dos trustes Flick, Thyssen
e outros. Na indústria de guerra, pontificou o consórcio metalúrgico Vickers; na indústria
química, o truste químico Imperial Chemical Industries e, no monopólio do petróleo, a
Royal Dutch-Shell. Os grandes monopólios detinham, igualmente, o predomínio nas
finanças e no comércio: nos Estados Unidos, alguns poderosos grupos financeiros
passaram a exercer imensa influência na economia do país, em grande parte decidindo
sua política, como os Morgan, Rockefeller, Du Pont, Mellon e outros.
As principais características do capitalismo monopolista
Uma característica central da economia mundial na fase monopolista do capital foi o
alargamento de sua base geográfica, tendo as relações capitalistas se expandido para
novas áreas do globo, na Europa, América do Norte e Japão, deixando para trás o
tempo do domínio absoluto da Inglaterra como uma potência capitalista e inaugurando a
época do imperialismo, marcada basicamente pela rivalidade entre os Estados. Neste
período, firmaram-se no cenário internacional do capitalismo, como novas grandes
potências a ameaçar e a efetivamente provocar danos ao poderio imperialista inglês, os
Estados Unidos, após a Guerra de Secessão, a Alemanha, findas as lutas pela
unificação, e o Japão, após a chamada Revolução Meiji, processos históricos estes
responsáveis pela conquista da hegemonia dos grandes grupos econômicos capitalistas
em seus respectivos Estados, levando tais países a adotarem internamente uma política
econômica homogênea em todo o território nacional, que garantia a expansão das
relações capitalistas já na fase monopolista da produção.
A grande transformação ocorreu na forma de organização da empresa capitalista, em
consequência do processo de concentração de capital, provocando o retraimento do
mercado de livre concorrência e dando origem a diferentes tipos de concentração e
integração de empresas, tais como os consórcios, cartéis, trustes e holdings. Este
processo de concentração fora resultado do funcionamento mesmo do sistema
capitalista, pois a concorrência desenfreada entre as empresas, associada às crises
sucessivas e à pressão por melhores salários e condições de trabalho exercida pelo
crescente movimento operário, levava à absorção ou eliminação das indústrias pelas
suas concorrentes mais fortes ou hábeis, acarretando no processo de monopolização e
oligopolização do capital. A concentração e a centralização do capital eram sinônimos de
uma acumulação capitalista operada com um número cada vez menor de detentores de
capital, resultando, ao mesmo tempo, na diminuição do número de empresas e no
aumento do tamanho médio das suas plantas.
Tal processo de concentração e de centralização de capitais ocorreu tanto nas
empresas industriais quanto nos bancos, provocando a substituição da grande
quantidade de pequenas casas bancárias por um pequeno número de grandes bancos,
forçando, ainda, que o capital industrial buscasse a associação com o capital bancário,
pela necessidade de créditos e visando a formação das sociedades anônimas por
ações. Forjou-se, assim, o capital financeiro, que passava a influir diretamente na vida
das empresas, comprando e vendendo ações, promovendo fusões e associações entre
os grupos empresariais e influenciando, junto aos Estados, nas diretrizes das políticas
econômicas adotadas. A fusão do capital bancário – antes tipicamente um capital
usurário, voltado a conceder empréstimos para financiamentos – com o capital
produtivo, propicia grande desenvolvimento do sistema de crédito, o que vem também a
favorecer de forma extraordinária a exportação do capital-dinheiro em larga escala.
O fato de os monopólios terem substituído a livre concorrência não significa que a
concorrência tenha sido eliminada. Nos países capitalistas, foi conservada uma multidão
de empresas médias, pequenas e uma massa de pequenos produtores de mercadorias,
como os camponeses e artesãos que não estavam em condições de se opor às
sociedades monopolistas e se viram obrigados a pagar um tributo singular aos
monopólios. A maioria dos agricultores passou a vender os seus produtos, no atacado,
às grandes companhias comerciais que, por sua vez, os vendem depois no varejo. Os
monopólios procuram impor, aos agricultores, os preços que eles estabelecem. Estas
companhias reduzem os preços no atacado e os elevam no varejo. A diferença entre
esses preços lhes proporciona lucros fabulosos, ao passo que, todos os anos, arruínam-
se milhares de agricultores.
Na época do capitalismo monopolista e do imperialismo, a massa fundamental das
mercadorias não se vende a preços formados, livremente, no mercado. Os monopólios
têm a possibilidade de estabelecer preços mais altos que lhes assegurem um super
lucro, à custa do empobrecimento do proletariado e de outras camadas
trabalhadoras. Tendo acumulado volumosos capitais, os monopólios procuram colocá-
los em circulação. Não satisfeitos com os rentáveis investimentos de capital na
economia nacional, procuram, incansavelmente, novos campos de atividade, exportando
capitais, cada vez em proporções maiores, investindo em empresas industriais e
comerciais estrangeiras.
Até a Segunda Guerra Mundial, os capitais eram exportados, preferencialmente, para as
colônias e países pouco desenvolvidos, onde os investimentos prometiam grandes
lucros. Nestas regiões, em que o estágio da luta de classes encontrava-se menos
avançado do que nos grandes centros capitalistas, não existindo um forte e organizado
movimento de trabalhadores, o empresário podia gastar muito menos com os salários
dos operários, menos do que se pagava na Europa e nos Estados Unidos.
Posteriormente, além da exportação de capitais para os países subdesenvolvidos, essa
exportação aumentou de um país capitalista para outros.
Outra característica fundamental deste processo histórico foi a maior participação dos
Estados, hegemonizados por grupos empresariais, grandes proprietários de terras e
banqueiros, na vida econômica das nações capitalistas desenvolvidas, abandonando-se,
gradativamente, a tradicional política de laissez-faire predominante na fase concorrencial
do capitalismo, logo após a Revolução Industrial inglesa. Em sua nova fase de
desenvolvimento, o capitalismo exigia que os Estados adotassem medidas para facilitar
sua expansão, através de políticas protecionistas e de investimento na indústria pesada
e bélica, com vistas a favorecer a exportação de produtos e capitais, além de garantir a
presença dos grandes conglomerados em várias áreas do globo, em meio à acirrada
disputa imperialista que se estabeleceu entre as potências industriais.
István Mészáros declara, a este respeito, ser esta uma das mais importantes
contradições do sistema capitalista no momento em que se afirmava a tendência
globalizante do capital transnacional, ao mesmo tempo em que mantinha-se a atuação
dos Estados nacionais no comando da ordem estabelecida, o que se traduzia no
colorário “pense globalmente, aja localmente”:
... o Estado nacional continuou sendo o árbitro último da tomada de
decisão socioeconômica e política abrangente, bem como o garantidor
real dos riscos assumidos por todos os empreendimentos econômicos
transnacionais.
Mais uma característica, a ser enfatizada por sua importância para as mudanças
operadas na velocidade e no ordenamento da produção, foi a revolução tecnológica,
que ficou conhecida como Segunda Revolução Industrial, responsável por permitir, com
a utilização de novas técnicas e novas fontes de energia, o desenvolvimento da
indústria pesada e de bens de consumo duráveis. Tais mudanças vieram
acompanhadas de uma tentativa sistemática de se racionalizar a produção e,
consequentemente, aumentar a produtividade, para o que as empresas passavam a
adotar métodos científicos na organização do trabalho dentro da fábrica, como o
taylorismo e o fordismo. Estes métodos visavam, acima de tudo, o maior controle dos
patrões sobre a mão de obra operária, tendo se constituído em novas formas de
dominação burguesa sobre o operariado dentro da fábrica, ao interferir diretamente no
tempo de trabalho e na forma de organização da produção. Buscava-se, assim, quebrar
a resistência dos trabalhadores à exploração do capital, minando a solidariedade entre
eles, através da imposição de um ritmo feérico de trabalho e da competitividade como
norma entre os próprios operários. As mudanças introduzidas por Taylor e Ford,
simbolizadas, respectivamente, no cronômetro e na esteira rolante, não foram meras
inovações tecnológicas, mas verdadeiras revoluções de ordem administrativa e
gerencial, pois colocou “a ciência da administração a serviço não do aumento da
produção e da produtividade ..., mas sim do poder dos capitalistas (o despotismo de
fábrica)”
Todo este conjunto de novas situações, em que se destacam a forte concentração de
capitais, a crescente capacidade produtiva das empresas, devido às inovações
tecnológicas, o acirramento da luta de classes, com o fortalecimento do movimento
operário na segunda metade de século XIX, provocaram a necessidade imperiosa de
conquista de territórios que representassem novos mercados consumidores dos
produtos industrializados, ao mesmo tempo em que se caracterizavam como
fornecedores de matérias primas e mão de obra barata ou semiescrava. Para tanto, era
necessário um agressivo processo de colonização das regiões do planeta nas quais o
imperialismo pudesse extrair insumos baratos e onde a força de trabalho fosse
extremamente desvalorizada, em função das condições sociais e históricas locais.
Praticamente todas as regiões do planeta onde as relações capitalistas não haviam
penetrado profundamente passaram para o domínio das grandes potências - da
Polinésia à América, da África à Austrália. A África, o continente que mais sofreu a ação
predatória das nações capitalistas, em 1876 tinha 10,8% de suas terras colonizadas; em
1914, nada menos que 90% de seu território estava em mãos estrangeiras! Se
verificarmos as possessões individuais das duas principais nações colonizadoras,
teremos o seguinte quadro: a Inglaterra (com um território de 300 mil km² e uma
população de 46,5 milhões de habitantes), em 1914 possuía colônias que
correspondiam a 33,8 milhões de km², nas quais residiam 440 milhões de pessoas; a
França (território de 500 mil km² e população de 39,6 milhões de habitantes) controlava
11,1 km² de colônias com um total de 95,1 milhões de indivíduos. O domínio dos
monopólios passou a envolver todas as regiões do planeta3.
As crises econômicas capitalistas
O processo das disputas imperialistas veio acompanhado de outro, igualmente drástico,
para as populações: o das sucessivas crises de superprodução, que passavam, a contar
da década de 1870, a fazer parte da realidade econômica dos países capitalistas
desenvolvidos.
O ano de 1873 inaugurou uma crise econômica batizada, pelos analistas, de “Grande
Depressão”, a qual se estenderia até 1895, abrindo, desta forma, a segunda idade do
capitalismo: a idade do imperialismo. Nas várias crises que, somadas, perfizeram a
“Grande Depressão”, com os craques das bolsas de Viena (1873) e Lyon (1882), o
pânico das estradas de ferro nos Estados Unidos (1884), a bancarrota da companhia
encarregada da construção do canal do Panamá, na França (1889), a crise do Banco
Baring e a depressão do setor têxtil na Inglaterra (1890), nova crise das estradas de
ferro e falência de bancos nos Estados Unidos (1893), etc., observava-se, no decorrer
daqueles vinte anos, uma tendência à baixa dos preços a acompanhar a redução das
produções e o crescimento do desemprego, acompanhado, por sua vez, por uma
tendência à baixa dos salários reais nos setores atingidos pela crise, acirrando a luta de
classes em alguns destes países. Percebia-se a crise como muito mais prolongada, ao
contrário do que se podia sentir nas crises anteriores à fase do capitalismo monopolista,
as quais teriam se caracterizado por serem explosivas e menos duradouras, causadas,
principalmente, por más colheitas e ausência de produtos no mercado, provocando
fome, miséria e revoltas sociais de vulto, a canalizar o descontentamento imediato das
massas.
De fato, somente com a passagem para o capitalismo monopolista, a Europa continental
passaria a sentir a plena expansão das relações capitalistas no campo, transformando a
antiga estrutura da economia pré-capitalista, baseada no atendimento às necessidades
de consumo dos produtores em uma economia voltada, essencialmente, à produção de
mercadorias. A dependência do produtor em relação ao mercado, a anarquia na
produção e a separação do produtor do consumo (o produto deixa de ser propriedade do
produtor e, consequentemente, sua produção não tem mais como objetivo central o seu
consumo) são características da produção capitalista, ou seja, da produção cujo objetivo
é a realização e multiplicação do lucro. A possibilidade de crise no capitalismo nasce da
produção desordenada e do fato pelo qual a extensão do consumo, pressuposição
necessária da acumulação capitalista, entra em contradição com outra condição, a da
realização do lucro, já que a ampliação do consumo de massas exigiria aumento de
salários, o que provocaria redução da taxa de mais valia. Tal contradição insanável faz
com que o capital busque compensá-la através da expansão do campo externo da
produção, isto é, da ampliação constante do mercado.
A natureza das crises capitalistas foi exposta originalmente por Marx no Livro III de O
Capital, segundo o qual quanto mais se desenvolve o capitalismo, mais decresce a
taxa média de lucro do capital. Isto porque o processo de acumulação capitalista leva,
necessariamente, ao aumento da composição orgânica do capital, ou seja, a relação
existente entre o capital constante (o valor da quantidade de trabalho social utilizado na
produção dos meios de produção, matérias primas e ferramentas de trabalho, isto é, o
“trabalho morto” representado, basicamente, pelas máquinas e pelos insumos
necessários à produção) e o capital variável (valor invertido na reprodução da força de
trabalho, o “trabalho vivo” dos operários). O processo de acumulação resulta na
tendência à substituição do “trabalho vivo”, a única fonte de valor, por “trabalho morto”,
que não incorpora às mercadorias nova quantidade de valor, mas apenas transmite às
mesmas a quantidade de valor já incorporada nos meios de produção. Como a taxa de
lucro depende da taxa de mais valia, cujo valor se reduz com a redução do “trabalho
vivo”, as taxas de lucro, a longo prazo, tendem a decrescer.
O quadro descrito acima é decorrente da concorrência intercapitalista, a qual obriga os
capitalistas a buscar superar seus rivais através do investimento em meios de produção
tecnologicamente mais avançados, para reduzir os custos da produção, além de tentar
economizar ao máximo na parcela relativa ao capital variável, em função do acirramento
dos conflitos provocados pela luta de classes e pelo fortalecimento do movimento
operário. A queda da taxa de lucro, portanto, é resultado, em última instância, da
tendência à substituição do “trabalho vivo” por “trabalho morto”, fazendo reduzir a fonte
de mais valia, o que acaba por originar uma superacumulação de capital e de
mercadorias, ao mesmo tempo em que promove uma restrição na capacidade de
consumo da sociedade, por causa do desemprego que desencadeia. Temos, assim, a
explicação resumida das condições gerais que provocam as crises capitalistas, na ótica
da teoria marxista.
Com o desenvolvimento do capitalismo, cresce a interdependência internacional dos
processos econômicos nacionais, situação que se reflete no caráter das crises, fazendo
da crise capitalista um fenômeno mundial. Ao mesmo tempo, porém, enquanto as firmas
menores sofrem a falência e a bancarrota em massa, o processo de concentração do
capital faz aumentar a capacidade de resistência da grande empresa. Enquanto a
produção artesanal e voltada para consumo próprio é praticamente aniquilada com o
progresso do capitalismo, a grande empresa, cuja produção passa a atingir amplos
mercados e se diversifica, pode prosseguir durante a crise, mesmo tendo sido forçada a
reduzir parte da produção.
A resistência às crises é também aumentada pela forma de organização da sociedade
anônima, que, decorrente da crescente influência dos bancos junto às indústrias, é
responsável pela maior facilidade na captação de capitais e no acúmulo de reservas na
fase ascendente da economia, além de proporcionar um controle maior na gerência do
capital. Do quadro exposto não convém inferir que as empresas resultantes de
processos de concentração, fusão ou cartelização sejam capazes de debelar os efeitos
da crise, mas, sim, que possam encará-los de maneira menos traumática, pois o peso
maior da crise será sentido pelas indústrias não cartelizadas. Além disso, no que tange à
luta de classes, a concentração de capital faz crescer o poder do empresariado no
enfrentamento à organização crescente dos trabalhadores. A grande indústria também é
capaz de oferecer maior resistência às greves operárias do que antes permitia a
estrutura das pequenas e médias empresas, isoladas entre si e competindo umas com
as outras. Segundo o economista austríaco Hilferding, cujos estudos muito contribuíram
para que Lênin desenvolvesse sua análise acerca do imperialismo, “a formação de
cartéis e trustes une, de forma mais forte e indissolúvel, os interesses dos capitalistas
participantes e torna-os uma unidade contra a classe operária”
O pensador marxista italiano Antonio Gramsci também refletiu sobre os aspectos
abordados acima, percebendo que, na fase imperialista, “o poder industrial de cada
fábrica separa-se da fábrica e centraliza-se num truste, num monopólio, num banco, ou
na burocracia de Estado”
5, sendo ultrapassada a fase liberal na qual o proprietário era,
ao mesmo tempo, empreendedor, gerenciando uma propriedade individual ou familiar. A
concorrência clássica da época da “mão invisível do mercado” foi substituída pela
concorrência entre oligopólios, empresas múltiplas comandadas por gerências que
trocaram a gestão empirista e intuitiva do capitalismo liberal pelo planejamento
estratégico. Ao contrário do que parte da esquerda imaginou, a planificação gerencial
das empresas não significou um passo na direção do socialismo, pois a competição não
deixou de existir, apenas tendo se transferido para novos patamares, assim como o
planejamento oligopolista não alterou a estrutura da sociedade, mas contribuiu para o
processo de renovação e ampliação da hegemonia burguesa.
Lênin e a lei de desenvolvimento desigual do capitalismo
Em suas análises sobre o tema, Lênin concluiu acerca da lei do desenvolvimento
desigual do capitalismo na época do imperialismo. A ausência de planejamento e a
anarquia da produção, próprias da economia capitalista, determinaram o seu
desenvolvimento desigual, logo nas primeiras fases do capitalismo. Isso se fazia sentir,
inicialmente, dentro dos diversos países, sem se refletir, demasiado, na correlação de
forças na cena mundial. A Inglaterra, que tinha sido um dos primeiros países a
empreender a industrialização, deixando muito para trás os seus competidores na
usurpação das colônias, manteve durante muitos anos a primazia na produção industrial,
influindo na política mundial de modo determinante.
Na época do imperialismo, o desenvolvimento desigual e por saltos do capitalismo
implica grandes transformações no plano internacional. A aceleração do progresso
técnico-científico e outros fatores permitiram, aos países capitalistas que empreenderam
tardiamente a via da industrialização, adquirir forças rapidamente e adiantar-se.
Compreende-se, perfeitamente, que a acumulação de poderio econômico seja seguida
da aspiração da burguesia nacional de conseguir uma nova partilha, em seu favor, dos
mercados e das esferas de influência. Assim procederam os monopólios alemães,
quando, apoiando-se no crescente poderio econômico e militar da Alemanha,
apresentaram a sua pretensão de dominar o mundo. A causa primordial das duas
guerras mundiais, que tantas calamidades causaram aos povos, foi o conflito entre os
grupos imperialistas. A Segunda Guerra Mundial adquiriu o caráter de guerra de
libertação, porque a União Soviética, os povos da coligação anti-hitlerista e os
combatentes da resistência lutaram contra o fascismo, a mais tenebrosa criação da
reação imperialista.
No período de após-guerra, os Estados Unidos firmaram-se, solidamente, na posição de
principal potência imperialista. Isto não significa que a lei do desenvolvimento desigual
do capitalismo tenha perdido a sua vigência. Houve modificações na correlação de
forças dos países capitalistas avançados. Após a reconstrução financiada pelos EUA
depois das bombas de Hiroshima e Nagasaki, o Japão também passou a ocupar lugar
de destaque no mundo capitalista pela sua produção industrial. A Alemanha ultrapassou
a Inglaterra no aspecto econômico. Os monopólios japoneses e alemães sustentam uma
intensa luta para alargar a sua influência e desalojam, de maneira sensível, os seus
rivais americanos. Disso se conclui que as contradições imperialistas são inevitáveis
entre os países capitalistas.
Mudanças substanciais no regime político da sociedade burguesa também podem ser
verificadas em função das profundas alterações econômicas trazidas pelo
imperialismo. Segundo Lênin, há uma tendência no imperialismo para a reação política,
expressa no aumento gigantesco do militarismo, dos seus organismos repressivos,
como a polícia, as forças de “defesa da ordem”, o sistema prisional, os órgãos de
vigilância política; na violação da legalidade e no emprego dos métodos repressivos,
mais brutais, contra o movimento revolucionário. A chamada “viragem para a reação”
não implica a renúncia aos processos e métodos da democracia burguesa, mas revela
uma tendência presente nos regimes políticos burgueses de posicionarem-se mais à
direita, principalmente nos períodos de intensos conflitos sociais e de grave crise
econômica.
A burguesia imperialista recorre ao terror nas situações de crise, quando a sua
dominação é questionada, mas, de um modo geral, prefere governar apoiada no
parlamento, no direito eleitoral e em outras instituições democráticas que mascaram a
sua ditadura. Tendo concentrado, em suas mãos, o predomínio econômico e o poder
político e procurando prolongar, a todo custo, a existência do regime capitalista, a
burguesia monopolista, em diversos momentos da história, não deixou de recorrer aos
métodos terroristas de governo em seus países. O fascismo foi o exemplo mais acabado
de ditadura terrorista desencadeada pelos círculos mais reacionários e agressivos do
imperialismo. Com grande frequência, os defensores do sistema imperialista se viram
forçados a recorrer ao último recurso, isto é, à reação e ao terror, em períodos da
história em que a correlação de forças sociais apresentou-se extremamente
desfavorável aos trabalhadores e aos partidos revolucionários.
O capitalismo monopolista de Estado
Nos primeiros decênios do século XX, foram registrados os sintomas da fusão dos
monopólios capitalistas com o Estado burguês, nos quais Lênin se fundamentou para
chegar à conclusão de que o capitalismo monopolista se transformava,
paulatinamente, em capitalismo monopolista de Estado. A união orgânica entre
Estados e monopólios institucionalizou-se após a Grande Depressão de 1929-1933 e,
especialmente, após a Segunda Guerra Mundial, quando o Estado passou a intervir de
maneira abrangente na economia, não apenas a redirecionando, para priorizar
determinados setores, como também organizando amplas áreas da produção, de forma
a regular a demanda e amenizar as crises. Nessa fase, os monopólios aceitaram essa
intervenção (“entregando os anéis para não perder os dedos”), não só em virtude das
pressões do movimento operário, mas fundamentalmente devido ao perigo soviético,
pois na vitória sobre o nazifascismo a União Soviética foi a nação que granjeou maior
prestígio, e o socialismo passou a estar presente em cerca de um terço da
humanidade.
A crise de 1929-1933 demonstrou, com toda a evidência, que o sistema de
“iniciativa privada”, assim como a “regulação espontânea da economia” que lhe
serve de base, não mais correspondia às novas condições de produção. Para se
adaptar a estas condições, sem afetar os fundamentos das relações do capitalismo,
tornou-se necessário tomar certas medidas “anticrise”. O Estado burguês começou a
encarregar-se da “programação da economia” para, se não eliminar, reduzir os
efeitos produzidos pelas crises sobre a economia capitalista. O Estado do pós-
guerra passou a dispor de grandes recursos orçamentários, oriundos das receitas
tributárias progressivas. Parte dos recursos eram aplicados em projetos sociais, para
tentar abafar os conflitos provocados pelas condições adversas causadas pela guerra,
mas também eram redistribuídos em favor dos monopólios, quer mediante gastos com
incentivos e subsídios para o financiamento de avanços técnicos e científicos nas
empresas, quer no investimento militar, cujas encomendas eram feitas junto aos
monopólios, quer pelas encomendas de produtos industrializados em geral, o que
proporcionou grande acumulação aos capitalistas no período.
A “programação da economia” burguesa não anula as leis econômicas do capitalismo e,
portanto, jamais deve ser identificada com a “planificação socialista da economia”. O
Estado procura influir na produção utilizando métodos indiretos, tais como o crédito,
definição de preços, encomendas, etc. O desenvolvimento das forças produtivas ficou
profundamente condicionado ao progresso acelerado dos ramos da ciência e da técnica,
exigindo investimentos colossais, nem sempre prometendo uma restituição imediata, e,
frequentemente, acarretando o risco e até o perigo da ruína. Por isso, o Estado passou a
se encarregar do financiamento das investigações científicas, cujos frutos eram
aproveitados pelas grandes corporações. Muitos ramos modernos da indústria, tais
como a aeronáutica, a cósmica, a eletrônica e a indústria atômica progrediram, nos
países capitalistas, com grande apoio financeiro do Estado, embora continuassem,
inteira ou parcialmente, sob o controle dos monopólios.
O capitalismo monopolista de Estado implicou no crescimento da propriedade do
Estado, que se operou por três vias: mediante a criação de novas empresas,
principalmente da indústria de guerra, à custa dos orçamentos públicos; mediante a
aquisição, pelo Estado, de parte das ações das companhias capitalistas; pela
nacionalização burguesa de algumas empresas ou de ramos inteiros de produção. A
ampliação da propriedade do Estado monopolista afetou os diversos ramos da
economia, como a organização das finanças, do transporte, da comunicação, assim
como novos ramos da produção gerados pela revolução técnico-científica, os quais
requerem grandes investimentos sob direção centralizada, dada a sua importância
estratégica, como é o caso da indústria atômica. Tratava-se, também, de colocar nas
mãos do Estado uma parte dos velhos ramos da economia que não mais se
apresentavam como suficientemente rentáveis. Os monopólios abandonaram-nos de
boa vontade, pois receberam uma indenização vantajosa do Estado.
A agudização das contradições entre os países imperialistas e a crescente
interdependência da economia mundial obrigaram os Estados capitalistas a regular,
cada vez mais frequentemente, as relações entre as divisas, o comércio, a exportação
de capital e a prestar assistência aos grandes conglomerados na arena internacional. O
desenvolvimento do capitalismo monopolista de Estado também foi consequência do
desmoronamento do sistema colonial do imperialismo após a Segunda Guerra Mundial,
o que forçou os monopólios a buscarem novas formas neocolonialistas de exploração
dos países em vias de desenvolvimento. Naquelas condições históricas, a expansão
política e econômica do capitalismo monopolista nacional não se daria sem o apoio do
Estado.
O surgimento de um poderoso bloco socialista no pós-guerra igualmente acelerou o
desenvolvimento do capitalismo monopolista de Estado nos países capitalistas. Para
poder lutar contra o socialismo e reduzir a influência do seu exemplo, o capital
monopolista recorreu à mobilização de todos os recursos econômicos, militares e vários
outros. Apesar de persistirem as contradições entre os países imperialistas, o capital
monopolista procurou unir as suas forças, ou, pelo menos, coordenar as ações em
escala internacional. Em boa parte, foi esta a razão do aparecimento da OTAN
(Organização do Tratado do Atlântico Norte), bloco militar imperialista, e de
agrupamentos econômicos, como o Mercado Comum.
A militarização da economia, no período da Guerra Fria, desempenhou um grande
papel no desenvolvimento do capitalismo monopolista de Estado. Reunindo recursos
colossais, com a arrecadação de impostos a que os trabalhadores são obrigados a
pagar, o Estado burguês investia apenas parte insignificante desses recursos na
instrução pública, na saúde e em outras necessidades de caráter social. O essencial
desses recursos era destinado às despesas de guerra, para engordar os cofres das
grandes corporações industriais de produção de armamentos.
O investimento do Estado na produção militar sempre ajuda o capitalismo a manter a
demanda agregada, reduzindo grandes crises de superprodução e possibilitando ao
sistema um crescimento relativamente estável. Por outro lado, proporcionou aos Estados
Unidos (como continua proporcionando nos dias de hoje), principal economia do mundo,
a construir as armas mais sofisticadas, com as quais estruturou seu potencial bélico
hegemônico. Durante a Guerra Fria, foi assim que os EUA mantiveram seu poderio
sobre os demais países ocidentais e ainda estimularam a corrida armamentista,
forçando que a União Soviética desviasse permanentemente recursos da área social
para a produção militar. Desta maneira, o complexo industrial-militar, a forma mais
expressiva da união do Estado com os monopólios, transformou-se no
instrumento fundamental da dinâmica capitalista e, por isso mesmo, adquiriu uma
série de vantagens em relação aos outros monopólios.
Nos dias de hoje, em que o capitalismo se utiliza de novas formas econômicas, sociais,
políticas e ideológicas para expandir seus domínios no mundo, mantendo vivas as
práticas e tendências imperialistas inerentes ao seu desenvolvimento, o capitalismo
monopolista de Estado continua a ser a expressão da união da força dos monopólios
com o poder do Estado, visando manter e fortalecer as posições da burguesia
monopolista, para prolongar a existência do regime capitalista. A vigência do capitalismo
monopolista de Estado não significou, portanto, a passagem a uma nova etapa diferente
do imperialismo, mas continuou a ser o mesmo capitalismo na sua fase imperialista de
desenvolvimento.
1
MÉSZÁROS, István – O Século XXI: socialismo ou barbárie?, São Paulo, Boitempo
Editorial, 2003, p. 33.
2
SECCO, Lincoln – “Gramsci: hegemonia e pós-fordismo” em COGGIOLA, Osvaldo (org.) –
História e Revolução, São Paulo, Xamã Editora, 1998, p. 55
3
COSTA, Edmilson - A Globalização e o Capitalismo Contemporâneo, São Paulo, Expressão
Popular, 2008, pp. 85-87.
4
HILFERDING, Rudolf – O Capital Financeiro in Os Pensadores: Hilferding, São Paulo, Abril
Cultural, 1985, p. 334
. 5
GRAMSCI, Antonio – Democracia Operária, Coimbra, Centelha, 1976, p. 101 apud SECCO,
Lincoln – “Gramsci: hegemonia e pós-fordismo” em COGGIOLA, Osvaldo (org.) – História e
Revolução, São Paulo, Xamã Editora, 1998, p. 57.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEAUD, Michel – História do Capitalismo: de 1500 aos nossos dias, 3ª edição, São
Paulo, Brasiliense, 1991.
COSTA, Edmilson - A Globalização e o Capitalismo Contemporâneo, São Paulo,
Expressão Popular, 2008
HILFERDING, Rudolf – O Capital Financeiro in Os Pensadores: Hilferding, São Paulo,
Abril Cultural, 1985.
HOBSBAWM, Eric – Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo, Rio de Janeiro,
Forense Universitária, 1983.
__________________ – A Era do Capital, 5ª edição, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1996.
__________________ – A Era dos Impérios, 3ª edição, Rio de Janeiro, Paz e Terra,
1992.
HUNT & SHERMAN – História do Pensamento Econômico, 15ª edição, Petrópolis,
Vozes, 1997.
MARX, Karl – O Capital: Crítica da Economia Política – Livro I: o processo de produção
de capital, 16ª edição, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1998.
MÉSZÁROS, István – O Século XXI: socialismo ou barbárie?, São Paulo, Boitempo
Editorial, 2003.
Nenhum comentário:
Postar um comentário